sexta-feira, 17 de junho de 2011

Namoro


NAMORO
Luís Fernando Veríssimo

O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês dois no telefone:
            - Desliga você.
            - Não, desliga você.
            - Você.
            - Você.
            - Então vamos desligar juntos.
            - Tá. Conta até três.
            - Um...Dois...Dois e meio...
            Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra?, eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha. (Gongonha!) Mamosa. Purupupuca...
            Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras no sofá, olho no olho, dizendo.
            - As dondozeira ama os dondonzeiro?
            - Ama.
            - Mas os dondonzeiro ama as dondonzeira mais do que as dondonzeira ama os dondonzeiro.
            - Na-na-não. As dondonzeira ama os dondonzeiro mais do que etc..
            E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de amígdalas, beijos catetéticos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais.
            Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que não vê, ou para ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo.
            E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas.
            Na última briga deles, a Suzana conseguiu fazer chegar aos ouvidos do Alcyr que estava saindo com outro. Um colega do trabalho. E o Alcyr fez a coisa sensata, o que qualquer um de nós faria. Passou a espionar a Suzana escondido. Começou a faltar a sua aula de especialização em ciências contábeis às 6 para ficar atrás de uma carrocinha de pipoca, vendo se a Suzana saía do trabalho com o outro. Rondava a casa da Suzana. Uma noite, uma sexta-feira, pensou ver a Suzana entrar em casa com um homem - e não viu o homem sair da casa.       Quatro da manhã e o Alcyr abraçado a uma árvore, tremendo de frio, de olho fixo na porta. Todas as luzes da casa apagadas e o Alcyr pensando, quase chorando: não pode ser, não pode ser. Como é que o seu Amorim e a dona Laurita deixam? Eu, eles botavam na rua às onze e meia. O outro, deixam dormir com a Suzana na sua própria cama. Porque a Suzana só podia estar na cama com o outro. Àquela hora, não podiam estar mais no sofá, ela chamando ele de Dondozeiro. Ou podia? Não podia. Podia, não podia, o Alcyr não se agüentou, pulou a cerca, se agachou sob a janela da Suzana, bateu com o joelho em alguma coisa, gritou, e quando o seu Amorim apareceu na porta dos fundos e perguntou "Quem é que está aí?" tentou imitar um cachorro. Não convenceu ninguém, claro, tanto que, dez minutos depois, estava sentado na mesa da cozinha, tiritando, as calças sujas de barro, tomando o café da dona Laurita com uma mão, e o outro braço em volta da cintura de Suzana. Sim, reconciliados, abraçados, emocionados. Pois Suzana se enternecera com o ciúme do seu Ipsilonezinho. Não havia outro nenhum, ela fora à farmácia com o pai, o homem que ele vira entrar em casa com ela era o seu Amorim, bobo! Mas o que realmente conquistara Suzana fora o ganido do Alcyr, tentando imitar um cachorro. Só um homem muito apaixonado faria um ridículo daqueles. Em dois meses estavam casados.
            Até hoje a Suzana conta a história do Alcyr ganindo no quintal, por mais que ele peça para ela não contar. As crianças já cansaram de ouvir a história, os amigos ouvem um pouco sem jeito. E a Suzana e o Alcyr não se tratam mais por apelidos. Quando fala nele, ela diz "Esse daí". Mas que foi bom, foi.

Trabalhando com o texto:
1) Encontre, no texto, palavras que signifiquem:
a) equilibrada ____________________________________________________
b) uivo: _________________________________________________________
c) exaltação, máximo: _____________________________________________
d) tremendo: _____________________________________________________
e) glorificação: ___________________________________________________                       


2) O que o personagem quis dizer com a expressão “que horas tu larga”?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) O extremo do ridículo, segundo o narrador foi:
a) imitar um cachorro para não ser descoberto        
b) abraçar uma árvore.
c) convidá-la para um chope.                                         
d) apelidar a pessoa amada.
e) transar para fazer as pazes.

2) No texto, considera-se que o melhor do namoro é o ridículo associado
a) aos apelidos carinhosos.          c) às mentiras inocentes.             e) aos telefonemas intermináveis.
b) às reconciliações felizes.         d) às brigas por amor.

3) O que é, segundo o narrador do texto, melhor do que as brigas?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________


ATIVIDADES GRAMATICAIS
1) Sublinhe os verbos nas frases a seguir e classifique-os. Em seguida, circule os complementos verbais, classificando-os também.
a) “O ipsilone no nome lhe dava uma certa segurança.”

b) “Desliga você.”

c) “Só um homem muito apaixonado faria um ridículo daqueles.”

d) “Pois Suzana se enternecera com o ciúme do seu Ipsilonezinho.”

e) Alcyr era solteiríssimo.

f) Quando fala nele, ela diz “Esse daí”.

g) “Não interessa.”             

Atividade retirada da internet....

Nenhum comentário:

Postar um comentário