O PAPAGAIO REZADOR
Papagaio
se conhece é pelo amarelo da cabeça. Se o amarelo é esmaecido, pode
falar, mas fala baixinho; se é gema de ovo, lustroso, cor de canário
tratado a folha de alface e água de limão. É falador garantido.
Cabeça
para aprender e falar, e até para pensar, tinha aquele papagaio ainda
novo, caído do ninho em dia de tempestade. Presente que deram ao
vigário. Bicho tagarela, aprendeu as palavras e a forma de combiná-las;
arremedava o sacristão ralhando com os coroinhas, imitava as beatas
cantando o “perdoai, senhor”. Aprendeu a tirar ladainha, melhor que
certos noviços mal entoados, que às vezes, vinham ajudar o vigário.
Por
tudo isso, o padre ficou muito sentido quando soube que o louro tinha
fugido, atrás de um bando de papagaios que passara, barulhando, na
direção do pouso da tarde. Chegou a maldar que o sacristão o tivesse
dado, ou, quem sabe?, vendido. Mas antes de acusar, tirou informações e
se convenceu de que o ingrato tinha mesmo ido embora, sem dizer adeus.
Daí
passou o senhor vigário a viver de lembranças: quando o coro cantava,
quando os noviços desafinavam, quando as beatas se esganiçavam, até
quando ele mesmo tirava a ladainha de maio, já lhe doía a saudade. Sem
falar do poleiro vazio, cuja vista lhe apertava o coração.
Acontece,
porém, que o tempo é como o vento soprando areias de dunas. Dia a dia,
pouco a pouco, vai recobrindo casas e até igrejas. Um louro, ainda que
ente querido, sempre é menor que uma casa. E em menos de três anos a
areia do esquecimento o recobria.
Um
fim de tarde, refestelado o vigário na cadeira de balanço, no alpendre
perfumado de madressilvas, quando menos se espera foi aquele coro de
vozes cadenciadas, aquele modo de falar, se perguntando e se
respondendo. O padre só fez olhar para o alto e logo viu o bando de
papagaios: agitando asas, grupados, acompanhavam o da frente que
modulava seguro:__”Stella matutina!__ e o bando uníssono compacto:
__”Ora pro nobis”.
Homem
de muito viver, o vigário sorriu. Notou que o da frente estava mais
magro, mais esbelto. Mas pelo amarelo da cabeça. Lustroso como canário e
pelo entoado da voz, nem duvidou que era o louro fugido. Reabriu o “
Breviarium Romanum” e deu com o salmo 135:”Qui facit mirabilia magna
solus” (Aquele que só faz maravilhas).
Marina Cavalcanti Proença
1. De acordo com o texto, qual o sinal de um papagaio falador?
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2. O que mostra, no 2° parágrafo, que este papagaio é diferente dos demais?
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3. Como você resumiria a biografia do papagaio até chegar às mãos do padre?
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4. Que frase do texto demonstra melhor a inteligência da ave?
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8. “...aquele coro de vozes cadenciadas...”.O que significa a palavra em destaque?_______________________________________.
9. Cada
frase abaixo apresenta uma palavra em maiúsculas com um determinado
significado. Formule uma outra frase com a mesma palavra, mas com
sentido diferente, escrevendo-a no caderno.
a) È muito difícil comer MANGA sem sujar as mãos.
b) O vento balança as FOLHAS das árvores.
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c) A LINHA estava descolorida.
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