domingo, 10 de junho de 2012

A NARRAÇÃO E A TROCA DE DISCURSO


A NARRAÇÃO E A TROCA DE DISCURSO

No discurso direto, o narrador introduz o personagem, geralmente, com um verbo de elocução e termina a frase com dois pontos. Em seguida, faz um novo parágrafo e coloca um travessão, seguido da fala do personagem. Já, no discurso indireto, o narrador conta o que o personagem disse.
Muitas vezes é conveniente transformar um discurso direto em indireto. É o que fazemos, normalmente, ao reproduzir um diálogo que presenciamos, com nossas palavras.
Veja como ficam algumas passagens de narrativas de nossa literatura, originalmente escritas em discurso direto, transpostas para o indireto.

Discurso direto
Discurso indireto
Aires pôs água na fervura, dizendo para o bacharel:
— Não vale a pena, moço; o que importa é que cada um tenha as suas idéias e se bata por elas, até que elas vençam.
(Machado de Assis, in Esaú e Jacó)
Aires pôs água na fervura, dizendo para o bacharel que não valia a pena. O que importava é que cada um tivesse as suas idéias e se batesse por elas, até que elas vencessem.

                   
  Observe, em negrito, as modificações realizadas no texto, resumidas no quadro abaixo:

Discurso direto
Discurso indireto
Uso de dois pontos, parágrafo e travessão, depois do verbo de elocução.
Ausência de pontuação depois do verbo de elocução, que vem seguido do conectivo que.
Verbos no presente do indicativo.
Verbos no perfeito ou imperfeito do indicativo.

A transformação de discurso, portanto, requer atenção especial no emprego dos tempos verbais, pontuação e algumas palavras como pronomes, advérbios e conectivos.


TEMPOS VERBAIS

Ao transformar o discurso direto em indireto, transcrevemos algo que alguém já disse. Logo, no discurso indireto, o tempo verbal será sempre passado em relação ao discurso direto. Observe alguns casos no quadro abaixo.

Discurso direto

Discurso indireto
Presente do indicativo

Pretérito perfeito ou imperfeito do indicativo
Pretérito perfeito do indicativo

Pretérito mais-que-perfeito simples ou composto
Imperativo

Pretérito imperfeito do subjuntivo
Futuro do presente do indicativo

Futuro do pretérito do indicativo



PRONOMES E ADVÉRBIOS

Pronomes e advérbios também são classes gramaticais que requerem alterações. Veja o exemplo a seguir.

Discurso direto

Discurso indireto
Justina olhou para Elza e disse:
Hoje não saio de casa.
— Não compreendo essa sua atitude.

Justina disse a Elza que aquele dia não sairia de casa e Elza respondeu que não compreendia aquela atitude dela.
Hoje (advérbio de tempo)

aquele dia
essa (pronome demonstrativo)

aquela
sua (pronome possessivo)

dela

Observe, ainda, que, além dos tempos verbais, pronomes e advérbios, é preciso estar atento à coesão textual, empregando corretamente os conectivos que unirão as falas que compõem o diálogo.
          

DISCURSO INDIRETO RELATADO

Na passagem do discurso direto para o indireto, é preferível que se liberte o máximo possível do texto original, fazendo um resumo com suas próprias palavras. É importante manter o significado primitivo do texto e corrigir os eventuais erros existentes.
Muitas vezes, e isto é comum nos vestibulares, é dado um discurso direto contendo erros ou vícios de linguagem, que devem ser eliminados na transposição para o discurso indireto.


EXERCÍCIOS

1.       Nos trechos abaixo, transforme o discurso direto em indireto e vice-versa, conforme o caso.
a)       “— Não furtei nada! — bradava o preso detendo o passo. É falso! Larguem-me!” (Machado de Assis, in Esaú e Jacó)

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b)       “Ao jantar Aurélia disse ao marido:
— Há mais de um mês que estamos casados. Carecemos pagar nossas visitas.” (José de Alencar, in Senhora)

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c)       “— Se quiser me chamar, basta apertar a campainha — diz o funcionário abrindo a porta ao novo cliente que entra pisando firme, majestoso.” (Lygia Fagundes Telles, in Seminário dos ratos)

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d)       “Ofélia perguntou devagar, com recato pelo que lhe acontecia:
— É um pinto?
Não olhei para ela.
— É um pinto, sim.” (Clarice Lispector, in Felicidade clandestina)

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