Interpretação de
poema - 9º ano
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de AndradeQue pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
1) Analise, inicialmente, a primeira estrofe.
a) Segundo o “eu poético”, o ato de amar é uma
vocação. Que versos sugerem essa ideia?
b) É possível perceber que, segundo o “eu
poético”, o ato de amar acontece quando o indivíduo se encontra em uma
determinada circunstância. Que circunstância é essa?
c) Amar, de acordo com o poema, é uma atitude
finita? Justifique sua resposta.
2) Na segunda estrofe, o “eu poético” diz que
o ser amoroso, em rotação universal, também pode amar.
a) Qual é o sentido da expressão “ser amoroso"?
b) Na estrofe inicial, foi mencionado que o
ato de amar acontece em um determinado contexto, ou seja, entre criaturas. Na
segunda estrofe, há uma palavra que se opõe a essa ideia. Que palavra é essa?
c) Mesmo mencionando essa palavra, pode-se
dizer que ainda prevalece a ideia da existência do amor somente entre as
criaturas? Justifique a sua resposta.
3) Ainda na segunda estrofe, ao empregar a
palavra mar, o “eu poético”
estabeleceu uma relação de semelhança gráfica e sonora com a palavra amar.
a) A palavra mar também reforça a ideia do movimento cíclico do amor. De que
forma isso está sugerido nessa estrofe?
b) Releia o último verso da estrofe: “é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?”
De maneira figurada, o “eu poético” revela três diferentes forma de amar. O que
você consegue apreender com base nos elementos citados?
4) Observe que na terceira estrofe o “eu
poético”, usando a linguagem figurada, fala em amar aquilo que é áspero ou
inóspito, sem vida ou vazio.
a) A as idéias “um vaso sem flor”, “um chão
vazio”, “o inóspito”, “o áspero” e “as palmas do deserto” apresentadas no poema
podem ser consideradas elementos figurados que representam características ou
atitudes humanas? Em caso afirmativo, que características elas apresentam?
b) Note que o “eu poético” ainda fala em amar
“o que é entrega ou adoração expectante” [que espera], “a a rua vista em sonho”
e “uma ave de rapina”. Esses elementos parecem não ter relação de sentido com
os mencionados na questão anterior. Assim, responda: o que é possível afirmar
sobre esses elementos, refletindo sobre o ato de amar?
5) Na quarta estrofe, o “eu poético” diz que o destino do ser humano é amar sem conta, ou seja, de maneira ilimitada, como uma forma de doação.
a) O que significa no poema “doação ilimitada
a uma completa ingratidão”? O “eu poético” está se referindo ao amor não
correspondido ou estaria falando sobre o amor desinteressado, de pura entrega?
b) Em que versos dessa estrofe o “eu poético”
sugere novamente a ideia do movimento cíclico do amor?
c) Ao falar em “concha vazia do amor”, o “eu
poético” remete novamente para a figura do mar, mencionada na segunda estrofe.
No contexto do poema, o que essa imagem pode estar representando?
Gabarito
1) a- “Que pode uma criatura
senão, / entre criaturas, amar?”
b- Quando ele
está entre criaturas.
c- Não, pois de
acordo com o poema, amar é cíclico, como pode ser observado nesses versos: “amar
e esquecer, / amar e malamar, / amar, desamar, amar?
2) a- É o ser que tem amor ou
está amando.
b- A palavra “sozinho”.
c- Sim, pois, ao
falar em “rotação universal”, ele sugere a harmonia de movimentos, da
convivência entre outros seres, ou seja, o ser amoroso acaba sendo impulsionado
a afinar-se com o mundo e também a amar.
3) a- Para reforçar a ideia do
movimento cíclico do amor, o “eu poético” disse: “amar o que o mar traz à
praia, / o que ele sepulta[...]”.
b- “Sal” é o
tempero, a graça que existe no amar; “precisão” pode estar se referindo à
carência afetiva, ao sentimento de solidão; “ânsia” à vontade, ao querer amar.
4) a- Sim, pois tais elementos poderiam
estar representando a ausência de sentimentos, o amor não aceito ou não
correspondido, o amor que não floresce, etc.
b- É possível
afirmar que, segundo o “eu poético”, o ato de amar pode acontecer em todos os
momentos vivenciados pelo ser amoroso.
5) a- O “eu poético” refere-se
ao amor desinteressado, de pura entrega.
b- Em “e na
concha vazia do amor a procura medrosa,/paciente, de mais e mais amor.”
c- A concha pode
ser o elemento que representa a capacidade humana de amar, que nunca se
completa, ou ainda pode ser um elemento figurativo que indica o lugar em que o
amor se instala, acomoda-se, encontra seu lugar.
6) A expressão sede ”infinita”.
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